Sobre a revista

Escopo

Mapinguary – Revista Socioantropológica é resultado de um trabalho coletivo de professores e estudantes ligados ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA), da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela está voltada à produção e veiculação do conhecimento na área das Ciências Humanas no contexto amazônico e brasileiro, mas certamente, para além dele. Neste sentido, optamos por nomeá-la considerando a inspiração nas potências imaginárias amazônicas que se ligam a mundos plurais, oriundos de experiências socioculturais distintas que tomam corpo na região. Daí a figura complexa, heteróclita e fabulosa do Mapinguary remeter a atmosferas e ambiências sutis, essas dimensões sensíveis do pluriverso amazônico ao evocar o caráter empírico das práticas cotidianas de suas populações junto aos ecossistemas e paisagens locais diante do mysterium, das formas não humanas inexplicáveis que revelam “entidades culturais imaginárias” situadas nos espaços e nas temporalidades amazônicas.

Tais existentes sobre-humanos revelam possibilidades de relações com mundos diversos, que desafiam as crenças, mas que acima de tudo, instigam a ciência a buscar compreender os fenômenos humanos (e, porque não, mais-que-humanos), ponderando acerca das narrativas presentes no contexto da Pan-Amazônia (e não apenas dele, por certo) como a possibilidade de tocarmos a poiesis, as dimensões sensíveis da vida vivida e da imaginação criadora dos grupos sociais, que atualizam e (con)fundem mito e história, real e irreal, verdade e mentira, local e global, periferia e centro, e restituem o lugar do humano como ser produtor de narrativas, que ao evocarem imagens revelam a força das memórias na própria vinculação da vida com a pertença a determinado lugar, ou ainda, indicam que a figura humana, a sua vida social, é signo de transcendência, de abertura do si-mesmo ao inexplicável, imerso numa ecologia sensível das formas amazônicas, às cocriações. O Mapinguary, figura grotesca e híbrida – e um dos tantos guardiões da floresta – representa, assim, a clareza do cuidado na coexistência com as diferenças e o obscuro das experiências destrutivas humanas no mundo.

Por outro lado, simbolicamente, o ser monstruoso, antropófago, indica que a devoração do outro, como forma sensível de assimilação das potências imaginárias do diverso de si, e mais diretamente desde o Manifesto Antropófago, indica ser esta uma das dimensões criativas, regenerativas e profícuas que a inteligência nacional sabe – ou sempre soube, mesmo antes da ideia de Estado-nação – produzir um pensamento autônomo apesar dos colonialismos. O Mapinguary representa isto: a força indômita da devoração e criação que nos autonomiza enquanto sociedade e que diante de suas imagens evoca mundos possíveis, diálogos promissores, hermenêuticas (e críticas) válidas no que se refere à construção do conhecimento na Amazônia, a partir de um olhar situado e de um espírito aberto para além dela.

Missão da revista

Por meio de seus dossiês e de outros espaços digitais e indutivos de submissão, a revista Mapinguary – Revista Socioantropológica priorizará publicações que estejam sintonizadas com a inovação científica e epistemológica, as atualidades socioambientais, o respeito aos desafios em prol da preservação e da justiça ambiental, as contínuas inclusões de minorias aos direitos humanos universais e o avanço autônomo das ciências entre os povos menos favorecidos no processo de globalização. 

Nessas perspectivas, também serão aceitos artigos escritos em colaboração e coautoria com interlocutores de pesquisa e comunidades de referência, propostas de “estudos colaborativos”, “pesquisas militantes ou solidárias”, pesquisas de “borde”, cujas reflexões reconheçam que a participação dos sujeitos sociais, comunidades e territórios nas atividades acadêmicas e intelectuais contemporâneas vai além da condição de “informantes” e revela seu papel central na produção de conhecimento.

Objetivos da revista

– Divulgar produções científicas originais que contribuam para o conhecimento das ciências humanas a partir da Amazônia;

– Expandir e aprimorar o conhecimento no contexto das ciências humanas, em seus pertinentes e contemporâneos campos temáticos, teóricos, metodológicos e epistemológicos, sempre sob teores críticos e compreensivos;

– Contribuir para a interlocução de cientistas atuantes em programas de pós-graduação e centros de pesquisa, promovendo a difusão de ideias inovadoras em sintonia com a promoção dos direitos humanos e da preservação da diversidade socioambiental.