Dossiê
O pensamento de Georg Simmel e seus usos socioantropológicos
Organizadora: Patrícia Silva Santos (UFPA)
Submissões até: 07/09/2025
Descrição: Entre os clássicos mais lidos das ciências sociais, Georg Simmel (1858-1918) provavelmente foi o que menos se intimidou com a perspectiva de que o social é movimento, acontecer, fluidez: em vez de aprisioná-lo a categorias definitivas, seria necessário atentar-se a seus enlaces e desenlaces, aos jogos, às contradições constantes, ao que une e separa com a mesma intensidade, aos conflitos que associam, enfim, ao “fluxo eterno das coisas”. Sem deixar de considerar as grandes cristalizações do social,
Simmel manteve-se também atento aos laços fugidios, às possibilidades oferecidas por saídas menos centrais. Onde menos esperamos, Simmel encontra vestígios do social: no adorno, nos sentidos, no segredo. De modo um tanto paradoxal, tais pistas onipresentes sugerem que não há algo como “a sociedade”, enquanto estrutura pronta e definitiva. Há esse grande impulso interacional recíproco que nos liga a todos, de modos diversos, podendo também chegar a formações mais cristalizadas.
Se essa maleabilidade e diversidade do pensamento simmeliano contribuiu para que sua presença nas ciências sociais não esteja tão institucionalizada como no caso de clássicos como Marx, Weber ou Durkheim, ela também concede ao autor uma marca de atualidade muito própria. Essa é uma das justificativas para este dossiê dedicado a Georg Simmel. Embora a recepção do autor no Brasil não tenha sido sistemática ou dotada de uma constância, em alguma medida ela se avizinhou da pluralidade e interdisciplinariedade que é inerente a seu pensamento. Nesse sentido, em consonância com o perfil da Revista Mapinguary, este dossiê pretende receber contribuições que interajam com elementos socioantropológicos das reflexões simmelianas, seja a partir de embates teóricos seja de análises empíricas. São bem-vindas contribuições envolvendo interlocuções críticas com a obra do autor, em seus mais diversos matizes: a pluralidade das formas de associação; as potencialidades e entraves da modernidade; os conflitos entre dinâmicas anímicas e sociais; as trocas monetárias e suas vicissitudes; os
descompassos no desenvolvimento da cultura objetiva e da subjetiva; as relações entre o social, os espaços e territórios etc.

Dossiê
Memória, Patrimônio e Criação Cultural em Territórios Quilombolas
Organizadoras: Luciana Carvalho (UFOPA) e Juliene Pereira (UFOPA)
Submissões até: 15/01/2026
Descrição: Este dossiê propõe reunir artigos que reflitam sobre os sentidos atribuídos à memória, ao patrimônio e à criação cultural em comunidades quilombolas, bem como sobre os usos dados a esses elementos em processos de luta por reconhecimento e defesa de territórios. Busca-se, assim, evidenciar os quilombos como espaços de vida e produção de saberes que conectam espacialidades e temporalidades diversas, desafiando os paradigmas hegemônicos do Estado, do mercado e da academia. A proposta parte do entendimento de que os territórios quilombolas compreendem sistemas simbólicos, históricos e políticos nos quais se entrelaçam vínculos de ancestralidade, regimes próprios de uso da terra e dos bens naturais, práticas de resistência e formas de produção e expressão de saberes que denotam territorialidades específicas. Nesses termos, assume-se que o território é condição ontológica da vida coletiva, em cuja defesa são acionadas estratégias discursivas e institucionais fundamentadas em argumentos que evidenciam a centralidade da memória, da cultura e do patrimônio como formas legítimas de mobilização política. Ao articular esses aspectos, o dossiê propõe um deslocamento epistemológico: o patrimônio não é apenas o que o Estado reconhece, cataloga e protege, mas aquilo que os sujeitos definem como parte constitutiva do seu modo de vida.
Nesse sentido, festas, expressões verbais e não verbais, técnicas produtivas e lugares de trabalho, entre muitos outros elementos, compõem um regime patrimonial próprio e situado, que desafia as abordagens hegemônicas do patrimônio, inclusive o próprio texto constitucional e os demais institutos jurídicos aplicáveis ao tema. Nesse contexto, ao propor este dossiê, evocamos a imagem do Mapinguary como guardião de mundos em coexistência. Os territórios quilombolas expressam justamente coexistências: entre tempo histórico e tempo mítico, entre a oralidade e o documento, entre a política institucional e a política dos corpos. São territórios que se atualizam como espaços de resistência e invenção, cujas territorialidades específicas devem ser reconhecidas não apenas em seus aspectos legais ou administrativos, mas sobretudo em seus modos de criar, fazer e viver. Para compor este dossiê serão bem-vindos artigos que discutam como a memória, o patrimônio ou a criação cultural são acionados em processos de luta por reconhecimento e defesa de territórios. Essa questão pode ser abordada a partir de múltiplas perspectivas e em diferentes eixos, tais como:
a) Modos de vida vinculados ao território, produção e transmissão de saberes tradicionais em comunidades quilombolas;
b) Criação cultural, memória coletiva, ancestralidade e (re)configurações identitárias em comunidades quilombolas;
c) Práticas e regimes de patrimonialização de bens culturais em territórios quilombolas, tais como tombamentos, inventários, registros e planos de salvaguarda;
d) Ações estatais e ações locais/comunitárias de preservação da memória e do patrimônio quilombola, inclusive embates em torno delas.
Outras discussões relacionadas com a temática do dossiê também poderão ser consideradas para publicação. Estimula-se, por fim, a submissão de artigos produzidos por autores(as) quilombolas ou em coautoria com membros das comunidades quilombolas.
